Teste

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Chefe Dan aproveitou que era  sua vez e pediu para desligarem as luzes, enquanto começou uma bonita dança. Ela fazia questão que festa de fim de ano da escola fosse cultural.

-Crianças, essa é uma dança que fiz em homenagem a Oxalá, mas ela é bem diferente da que fazemos la no terreiro. 

Todos amaram a apresentação .

Era a vez do pai da Vicky, que todos  conheciam como Papai-Compra-Tudo pois não deixava nenhuma extravagância faltar para a filhinha querida. Colocou seu chapéu de cangaceiro todo surrado, pegou a sanfona e começou uma musica bem animada, mas que não tinha nada a ver com o Nordeste.

-Eia! Taí algo que a gentE não vê todo dia.Um pé-de-rapadura que floreia um xotE do BorguetE!- Disse o Tio João como aquele sotaque engraçado exagerando nos “Es”.

-Ôxe! O melado da minha rapadura se ajunta com o amargo do tua cuia e se “inquilibra” na mistura.

Tio João às vezes sabia ser bem indelicado, mas nada ia destruir aquela alegria. Para completar a tirada, o nordestino parou a musica e puxou uma meia-cabaça toda trabalhada com cactus, mandacaru  e um burrinho natalino. Uma  cuia de chimarrão personalizada que o Tio  João amou ganhar.

-Bom, meu amigo secreto é uma pessoa bastante especial.  Adora ajudar as pessoas e como todo escoteiro, canta pra ajudar a vencer  os problemas.

Ele falava bem devagar . todo atrapalhado e mexendo os olhinhos, pra todo mundo saber quem ele estava imitando. O coração do Khan disparava, era hora dele ganhar seu tão esperado presente e já tinha visto o embrulho encima da mesa. Tinha a forma de um ovo. Um ovo de dinossauro!

-Deve ser uma panela né, Tio?

Todo mundo riu da humildade do garoto. Ele avançou na mesa com a fúria de um predador e destruiu o papel de presente, guardando com carinho o cartão do Vô Lineu que tinha vindo junto. Respirou bem fundo e colocou a mãozinha no mostrador do aparelho, que jogou frases  em neon  no ar girando em volta do menino:

“As  3 Leis do Domador de Dinossauro”- Disse Khan.

O menino olhou em volta no escuro para ter certeza de que estava dividindo aquela emoção  com os outros. Foi quando percebeu algo muito preocupante.

O meu amigo secreto não sabe falar e às vezes é meio invisível. Aliás, CADÊ ELE?!

Khan estava sempre alerta e percebeu a falta do Pedrinho que tinha aproveitado a escuridão e sumido junto com o bolo de nozes que a Glorinha  deu de presente à Chefe Dan. Onde ele foi parar? 

Achar o molequinho travesso era uma ótima missão para os escoteiros. Estava iniciada a Aventura de  Natal da Tropa. Onde o molequinho foi parar?

                                                                                                                       A tradição de dar presentes no Natal é bem antiga e se perdeu no tempo. Em muitas culturas se distribui presentes as pessoas queridas ou para criar lações e fazer negócios. A lenda do Papai Noel está ligada à imagem de S. Nicolau de Mira que vivia no século V e distribuia presentes às crinaças pobres

Ah, o Natal... Festa linda de viver em que todo mundo volta á ser criança e brinca de fazer as pazes com os outros. 

-Como vocês sabem, nem todas as pessoas comemoram o Natal. A maioria comemora o nascimento de Jesus, mas pra alguns o Natal tem outro significado. A familia do Rafa comemora o Chanucá, uma bonita Festa das Luzes. Pra mim e meu povo o Natal é a Festa de Oxalá

Dandara, a Diretora e Chefe Suprema dos escoteiros fazia questão de todos os anos juntar as crianças o os pais para a brincadeira do Amigo Secreto. Pra ela era uma oportunidade das pessoas se conhecerem melhor e trocarem experiencia. Pra ela tudo era educativo.

-Bom, a gente começa né, Pedrinho?-disse a Tia Fátima- como vocês sabem o Pedrinho Sápi só fala por sinais então eu vou traduzir pra vocês. A amiga secreta dele é uma menina muito sabida e as vezes e meio brabinha. O presente que ela pediu pra gente era muito caro então como estamos meio pobres resolvemos dar outra coisa de lembrancinha, espero que goste, Vicky.

A Vicky era a menina mais rica da turma e ficou meio triste pois o vestido que ela tinha pedido de presente era ,mesmo muito caro. Era uma cópia da roupa de uma princesa de desenhos animado que todas as crianças ricas estavam usando. Mas fazer o quê, né?

Ela abriu o embrulho e ...surpresa! O vestidinho dela estava lá, brilhante. Por sorte a Tia Fátima era além de boa professora uma costureira de mão-cheia.Ela tinha gasto muito tempo e carinho fazendo a roupa sob medida e ainda fez um "upgrade" colocando rendas . Vicky estava tão animada que nem foi ao banheiro, botou a roupa por cima da camiseta mesmo e ficou parecendo uma princesinha mais linda que no desenho.

-Bom agora acho que é minha vez, né?Meu amigo secreto é muito metidinho, mas muito fofinho. Não gosta muito de conversar comigo, fala umas palavras meio estranhas de vez em quando e adora chutar latinhas.

-É o Rafa!

Rafael amou o presente, a Camisa 7 do time que ele torcia, o Vasco da Gama. Mas era muito acanhado para agradecer na frente de todo mundo.

-Bom, minha amiga secreta também é bonita, também gosta de falar e fazer coisas estranhas, conta estórias como ninguem.

Tia Fátima extendeu a mão e se reconhecendo pegou o presente e roubou um beijo do garoto tímido. Ela tinha ganho um lenço roxo muito bonito daqueles que sempre usava pra esconder o cabelo- que era um dos maiores mistérios da escola.

-Esse lenço chama-se hijab e representa a pureza da mulher. Mas não se enganem, as mulheres árabes podem ser tudo, menos bobas.

Tia Fátima deu mais um chamego no menino agradecendo. Dandara ficou emocionada. Ela pressentia que algum lugar do mundo um menino poderia estar sendo morto por alguém como a Tia Fátima -ou vice-versa- por que aqueles povos viviam se odiando. Mas aqui era tudo paz e amor.

-Minha amiga secreta é a criança mais fofa da escola. Ela é muito inteligente e sempre dá lição na gente.

Levou um tempão pra descobrirem. Fátima brincava muito bem e nem desconfiavam que ela estava falando da Glorinha, a menina bobinha da turma. Glorinha acredita em qualquer coisa que diziam e levava tudo ao pé-da-letra, mas tinha a sabedoria da simplicidade, conseguia ver o que estava debaixo dos olhos das pessoas e elas não viam.

-Meu presente vai te dar sorte. É feito com uma erva lá da Pérsia e tem o poder de afastar as feras mais ferozes.

Glorinha gostou do presente e passou o lápis liquido, melecando todo o rostinho

- Minha Amiga Secreta é a criança mais jovem da escola.

Glorinha as vezes fazia as observações mais inteligentes. Sem querer, mas fazia. Demorou pra entenderem que ela estava falando da Chefe Dandara. E a diretora e Lider Suprema dos escoteiros era mesmo a criançona mais jovem da turma.

- Agradeço pelo elogios pelo seu bolo de nozes, Glorinha. Agora é minha vez, mas antes queria fazer um presente para todos.

Como sempre fazia, Chefe Dan mandou apagar as luzes, enquanto botava o gostoso bolo da Glorinha em cima da mesa, pertinho de um embrulho na forma de ovo. O presente do Võ Lineu! Khan o reconheceu e o coração do garoto começou a disparar.

(continua...)

Infelizmente para Khan, Papai Noel quase nunca aparecia. Khan era um menino pobre, mas muito esperto. O Tio dele era zelador da escola do bairro e moravam juntos numa casa de favor atrás do pátio. 

Khan era muito sabido, sensível, criativo e era um o escoteiro perfeito, sua maior diversão era fazer boas ações e ajudar as pessoas. Só tinha um defeitinho de fabricação: tinha os olhos muito grandes, puxados pro lado, falava e andava de jeito desengonçado e tinha o corpo atarracado o que fazia ele ficar diferente das outras crianças.

O Tio João participava de ONGs, grupos e pessoas que iam pros bairros pobres levar comida e brinquedos no Natal e fazia questão de sempre levar o garoto junto

- Khan, Papai Noel não vem na nossa casa pra nos dar o maior de todos os presentes. Todo Natal nós temos o privilégio de sermos os ajudantes dele e levar alegria para as crianças que são mais pobres do que nós. 

Khan sabia que não era bem aquilo, mas o tio tinha razão. Para a família do Khan o Natal não era tempo de receber, mas sim de compartilhar. Ser ajudante de Papai-Noel era um privilégio. A parte mais gostosa do Natal pra eles era colocar aquele gorro vermelho e subir o morro no velho veículo. Tio João virava o clone do Bom Velhinho e Khan o seu Duende Chefe.

- E o Velho Brutus é o trenó, né?

Tio João piscava pro garoto que acentia. Brutus era o ônibus escolar que o Tio dirigia, todo velho e enferrujado. As vezes ele usava pra transportar coisas.

Todo Natal era a mesma coisa. O menino bonzinho levava presentes para as outras crianças, mas nunca tinha ganho nada. Pelo menos nada de material e de especial. Nenhum brinquedo da moda como as outras crianças. Mas naquele ano ia ser muito diferente. Aquele ano estava destinado a marcar sua vida para sempre. E Khan sabia disso, sentia isso fortemente.

Uns dias antes ele tinha saído na pracinha para ver as estrelas e flagrou Demoiselle, a pterodátila, trazendo um embrulho no bico e o deixando nas mãos do tio. No mesmo momento, o menino já entendeu do que se tratava. Aquele embrulho pulsava vida, tinha cheiro de sonho realizado.

Nos dias seguintes, ele ficou rodeando o guarda-roupas onde o tio tinha escondido o presente. Chegava a ouvir um ruido gostoso de coração batendo atras da porta do móvel-ou o coração era o dele batendo muito rápido de ansiedade. Um dia achou a porta do guarda-roupa aberta e num ataque de curiosidade pós a cabeçorra lá dentro para ao menos ler o cartãozinho que acompanhava o embrulho e diminuir sua aflição:

"Ao meu querido netinho Khan,
 De seu saudoso
Vô Lineu

-Direto de algum lugar do planeta"


O garoto ficou feliz com a surpresa, Vô Lineu era uma velho marujo, um verdadeiro Lobo do Mar. Marinheiro aposentado ele quase nunca via a a ele e ao filho pois vivia navegando. E sempre que podia mandava uma lembrancinha de algum lugar  diferente do planeta. E vinham sempre com uma belo cartão postal. Khan virou para ver a outra parte do cartão e tinha estampado uma praia exótica, com rochas,coqueiros e um barco de junco

"Algum lugar do Oriente".Supõs.

Naquele mesmo dia uma estrela cadente caiu do céu e Khan pensou em fazer um pedido. Mas como seu maior sonho estava se realizando, decidiu trocar o pedido por uma promessa.

-Meu presente não vai ser só meu, mas de todas as crianças de todas as idades. Vou fazer o possivel para que com ele possa distribuir ao mundo toda alegria que sinto agora.

E dormiu feliz e sossegado.

Pergunta ao Leitor:

Você, assim como o Khan já teve muita vontade de ganhar um presente do Papai-Noel? O que pediu? Ganhou? Como foi? Divida a experiência com a gente. Deixe sua mensagem nos comentários. E ate a próxima! SEMPRE ALERTA!

O domingo amanhece no Vale Paraíso com sons mais coloridos. Além do canto dos pássaros e do sino da igrejinha barroca, se ouviam barulho de marretas, gente gritando, gente indo e vindo. O Circo dos Ciganos estava sendo montado ao lado da pracinha, trazendo muita novidade.

Na entrada já tinham erguido um toldo de lona, todo enfeitado com fotos antigas em preto e branco e ao lado um cartaz com uma Flor-de-Liz dourada pintada bem no meio e onde se lia "GEVAP- Grupo Escoteiro do Vale Paraíso". Um homem ainda jovem ficava na frente com seu megafone:

- BOM DIA, CRIANÇADA! QUEM QUER SER ESCOTEIRO?

Todos os anos no começo das férias faziam o mesmo convite e várias pessoas se aproximavam pra ver o que estava acontecendo. Desta vez combinaram com a dona do Circo que iam ajudar a erguer as barracas e em troca, entrariam na plateia de graça e ainda poderiam usr o espaço pra divulgar as atividades da Tropa.

- Meu filho, quem é esse moço com esse uniforme bonito na foto?

- Minha senhora, essa daí é uma cena do filme Indiana Jones e a Ultima Cruzada, na qual o herói ainda adolescente luta com os bandidos.

-Ah. E esse outro moleque raquítico com essa bandeira pisando a cabeça de um dinossauro?

- Essa dai é um "piá" que mora aqui no bairro e ficou muito famoso por ter matado um monstro que tentou devorar um amiguinho. Ganhou até medalha de honra.

- Queria muito conhecê-lo.

O rapaz deu uma ajeitadinha orgulhosa na barbicha, ajeitou o óculos, deu uma puxada no lenço dourado que carregava no pescoço e esticou o braço esquerdo, como é a tradição dos escoteiros.

- Prazer, minha senhora. Meu nome é Alexis, mas todo mundo por aqui me conhece como João-Mata-Dragão. Sou eu ai nessa foto.

- Mas o senhor é muito franzino...

-Há! A senhora não é capaz de imaginar o que podemos fazer quando um amigo está em perigo. Eu viro bicho.

- Bem que fez, então. Depois que esses malditos bichos apareceram ninguem mais teve sossego.

Tio João, se despede da senhora dando uma boa baforada na bombinha de asma. Ele sempre tinha falta de ar quando ficava nervoso. Lá dentro um garoto de uns 10 anos e jeito meio desengonçado de falar apresentava as fotos pra quem passava e se interessava.

- Esse moço ai na foto com esse chapelão é o Robert Baden-Powel. Ele inventou o Movimento Escoteiro para ensinar coisas uteis para as crianças. Coisas tipo, como sobreviver no mato, como ajudar as pessoas que precisam, respeitar os mais velhos, obedecer aos professores, como ser gentil... E o mais bacana, de uma forma que a gente se divirta, sinta mais útil e feliz.

A maioria dos jovens passavam pela pracinha e fingiam que nem viam a barraca. Alguns ainda tiravam sarro. Ser responsável, fazer o Bem e ajudar os outros infelizmente nunca esteve na moda. A maioria achava que era coisa de gente careta. Mesmo assim Tio João e seus "piás" insistiam.

Os poucos que se interessavam entravam na barraquinha e viam lá fotos de crianças felizes de todas as partes do mundo. Ser escoteiro era uma aventura sem fim e era muuuuuuito divertido.

-Khan, menina também pode participar?

Era a voz da Vick, a menina rica do bairro, que tinha acabado de chegar para ajudar na divulgação e já chegou todo paramentada com suas insignias. Trazia um dinossaurinho anão no colo e veio apresentar a Tropa para a Glorinha. A pergunta dela era importante por que muita menina como a Glorinha queria entrar pro grupo mas tinha receio.

- Pode sim. Aqui nós temos uma Patrulha de "Guias", que é como chamamos as meninas escoteiras. Pra elas temos a Patrulha Arara.

-E criança que não fala?- perguntou uma moça com um menino bem novinho dormindo no colo.

A pergunta era ótima. Incluir crianças surdas em qualquer grupo era um grande desafio. Pedrinho Sápi ia ser bem-vindo na Patrulha Guará que era o grupo das crianças menores. Khan e Tio João respiraram fundo e deram um suspiro juntos. Sabiam que o Sápi ia dar muito trabalho, mas ficavam contentes com mais esse desafio.

A vida de escoteiro era uma aventura sem fim, que se renovava todos os anos e a Temporada desse ano prometia muitas emoções. Como diz o lema mundial dos escoteiros, "BE PREPARED!"- Esteja Sempre Alerta!

Os Grupos Escoteiros existem de verdade. Se você se interessou e quer conhecer melhor, procure links ou informações sobre os grupos de sua região. Um bom ponto de partida na internet é o site dos Escoteiros do Brasil (http://escoteiros.org.br/) Entre lá e dê uma boa explorada.